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Literatura

Importuno Poético: Jocélia, Clea, Lutigarde e muitas mulheres

Jamile Menezes

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“Somos mais que três”. A definição chegou ao final da entrevista feita no sobrado iluminado pelo sol, no Carmo. A vista para a Baía de Todos os Santos foi um detalhe especial no encontro com as mulheres que fazem o Importuno Poético, três poetrizes – como se auto definem Jocélia Vândala Fonseca, Cléa Barbosa e Lutigarde Oliveira – que carregam histórias, memórias e marcas indeléveis da diversidade.

Elas são fruto de muitas culturas. Tem ciganas, negras, indígenas, sertanejas, tudo misturado para formar este grupo de poesia que já acumula 16 anos de arte de rua, singular, inovadora e, sim, de muita resistência. O nome – Importuno Poético – veio de um sonho de Lutigarde, que se uniu ao que elas aprenderam a fazer para viver da Poesia: importunar. Nas ruas, praças, eventos, lá estão elas levando aromas, balaios, figurinos, maquiagens e Poesia. São mães, filhas, empreendedoras da Cultura soteropolitana que carregam em cada uma marcas que unem o Sertão e Salvador. Vamos conhecê-las!

clea

Foto:CarolineMoraes

Cléa Barbosa – Clezenilde Barbosa

“Não se tem vergonha daquilo que tem dentro de você.” Assim Cléa cresceu ao lado de sua avó Renildes Barbosa, que a criou desde cedo, entre Petrolina e Juazeiro, ao som das cantigas e lamentos das Cantadeiras do Angari, ao redor da Ilha do Massangano (Petrolina). A poesia em Cléa chegou a partir daí, da poética das rezas, das orações do Terreiro. “Tudo foi compondo esta mulher que sou. Irmãs e tias de santo, minha genitora, minha avó Renilde que me criou, todas compõem esta canção que é a Clea”, ela diz.

“Somos três mulheres guerreiras que acreditam na força espiritual e artística como forças que defendem nossas existências” – Jocélia Vândala Fonseca.

lutiLutigarde Gama de Oliveira

Nascida em Salvador, criada na Baixa do Cacau, bairro de São Caetano, vem de uma família de cinco filhos. Aos 15 anos conheceu os Poetas da Praça e fazia parte do Movimento Anarco-Feminista, editou quatro zines (PunKardia), que circularam no Movimento underground em Salvador.  “Trago o Sertão comigo por parte de meu pai, cresci ouvindo meus avós católicos ortodoxos sertanejos fazendo rezas a São Sebastião e na Capoeira Angola, com Mestre João Pequeno, aprendi a baixar a cabeça e rezar. No nosso trabalho, éramos filhas, mães, irmãs e criamos este triângulo amoroso de raízes religiosas do Candomblé, da Capoeira, dos índios, das ciganas, das novenas cantadas e do teatro. Uma cumplicidade que fomos ajustando no caminhar da Poesia”.

joJocélia Vândala Fonseca

De Belém de São Francisco, Juazeiro, Jocélia é de uma família de dez irmãos, com uma relação difícil, desestruturada psicológica e financeiramente. Sonhava com o Teatro, mas os papeis de destaque ficavam para as meninas “mais ajeitadinhas”, ela enfatiza. “Eu era preta. Foi só no Grupo Eu, Tudo, Teatro, criado pelo Centro Comunitário, que consegui ingressar nesse meio, o que ampliou minha forma de pensar. Foi onde me encontrei com a interpretação. Quando me retei com a vivência de ser mulher, fiz o poema “Devolve a costela que lhe foi emprestada”, meu primeiro poema aos 20 anos”, ela diz.

O IMPORTUNO POÉTICO

Tudo começou quando, no Campo Grande, as três resolveram “importunar” um casal, com poesia. “Nossa necessidade de “bulir” com o outro era muito mais forte, o que tornamos algo funcional para o trabalho”, explica Cléa. Restaurantes como o Quintal, Dadá, Laranjeiras, Mercado de Santa Bárbara, Quilombo Cecília, eram lugares já certos para as performances do trio. Cheiros, figurino, maquiagem, corpo, sons, essa a ritualística que marcou o processo inicial do Importuno e que até hoje as caracteriza. Donas de casa durante o dia e, à noite, elas seguiam o roteiro entre Rio Vermelho, Pelourinho…

SAMSUNG CAMERA PICTURES“Desde o final de 1999, o Importuno vem se impondo enquanto mulheres, mães, donas de si em suas mil facetas. Vamos sentindo a necessidade de nos compreender enquanto pessoas artísticas e espirituais”, diz Lutigarde. “A influência do figurino é, justamente, de tudo isso: roupas ciganas, saias rodadas dos barracões, xales, brincos, balangandãs, tudo isso somos nós”, Cléa completa. Sendo tudo isso e ainda querendo mais, o Importuno Poético está no processo gráfico do seu 2º livro.

Foto destaque: Fabiana Conde

Literatura

Zulu Araújo lança livro sobre 50 anos de luta antirracista

Kelly Bouéres

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ZULU ARAUJO
Pedro Salles

Com mais de cinco décadas de atuação no movimento negro, Zulu Araújo lança seu primeiro livro, Apenas um cidadão, no dia 3 de dezembro, às 18h, no Museu Nacional da Cultura Afro-Brasileira (Muncab). Editada pela Solisluna, a obra marca a estreia literária do ex-presidente da Fundação Cultural Palmares.

Apesar de não ser um livro de memórias, Zulu revisita episódios marcantes de sua vida, acumulados ao longo de mais de 60 anos. Ele reúne histórias pessoais, passagens políticas e reflexões sobre o enfrentamento ao racismo.

“Esse livro nasceu do incentivo de amigos que viam potência nas minhas histórias. O leitor encontrará episódios divertidos, desafios familiares e reflexões sobre minha trajetória política e cultural”, afirma.

Zulu começou a trabalhar aos 10 anos para ajudar a família e, aos 18, já integrava o movimento negro. Em 1973, ingressou no Partido Comunista Brasileiro, onde viveu o período mais duro da ditadura. “Comparado àquele tempo, houve avanços, mas ainda há entraves enormes para a cidadania, sobretudo para pessoas pretas”, destaca.

No livro, o autor também relembra sua formação acadêmica, o impacto da educação na construção da consciência cidadã e a importância das redes de solidariedade no combate ao racismo.

“É preciso consciência dos nossos direitos, apoio do movimento negro e coragem para os enfrentamentos necessários”, afirma.

O livro também registra homenagens recebidas ao longo da carreira, incluindo a mais recente, em 20 de novembro, quando foi celebrado no Parque Memorial Quilombo dos Palmares, em Alagoas, pelo papel central na luta antirracista no Brasil.

Mesmo aos 73 anos, Zulu segue comprometido com a transformação social. Como costuma dizer: “Toca a zabumba que a terra é nossa!”

Sobre a Editora

Desde 1993, a Solisluna Editora cria projetos que valorizam a cultura, a diversidade e o imaginário brasileiro, conectando arte, palavra e afeto através de livros e ações culturais.

SERVIÇO:

Lançamento do livro Apenas um cidadão, de Zulu Araújo
 Bate-papo com Zulu Araújo e Paulo Miguez
 Mediação: Mirtes Santa Rosa
3 de dezembro de 2025
18h
Muncab – R. das Vassouras, 25, Centro Histórico
Entrada gratuita

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Literatura

FLESF 2025 celebra arte e literatura no Subúrbio

Kelly Bouéres

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Jovina Souza - professora e escritora. A segunda com livros rosas é Dejanira Rainha - professora e escritora.
Divulgação

A 3ª Festa Literária Escolar do Subúrbio Ferroviário (FLESF) acontece de 25 a 29 de novembro de 2025, com atividades gratuitas em escolas municipais da Cidade Baixa e da Ilha de Maré. Com o tema “Com amor e maestria o artista e o artesão reinventam a vida na periferia”, o evento homenageia artistas, escritores, artesãos e poetas do Subúrbio Ferroviário de Salvador.

A programação reúne rodas de conversa, oficinas de rimas, contação de histórias, saraus, debates sobre literatura e artesanato, além de pocket shows. Entre os convidados estão nomes da literatura e da música baiana como Jovina Souza, Lucas de Matos, Dejanira Rainha, Carol Adesewa, Giovani Sobrevivente, Italva Cruz, Duda Santhana, Mil Vinis, Felipe Uxê, Ed Veríssimo, Urubu X, Grupo Mariar e muitos outros.

Idealizada pela escritora Jovina Souza, a FLESF é realizada em parceria com o Sarau do Agdá, Biblioteca Social Afro-Indígena Meninas do Subúrbio, Coletivo Água da Fonte e Ori Aiê – Leituroteca, reforçando a integração entre escola, comunidade e produção cultural. As ações fortalecem a prática da Lei 10.639/2013, estimulando vínculos entre educação, ancestralidade e arte.

A edição 2025 inclui ainda mesas temáticas sobre artesanato, arte como cuidado, linguagens do hip-hop, poesia negra, infância na literatura e importância das ilustrações. O encerramento acontece no sábado (29), na Biblioteca Social Afro-Indígena Meninas do Subúrbio, com distribuição gratuita de livros, bazar, apresentações artísticas e homenagem ao artevista Ailton Kamuru.

A FLESF 2025 foi contemplada no Edital Lia da Silveira – PNAB nº 05/2024, com apoio financeiro da Secretaria de Cultura da Bahia e do Ministério da Cultura.

SERVIÇO:

3ª Festa Literária Escolar do Subúrbio Ferroviário – FLESF 2025
25 a 29 de novembro de 2025
Escolas Municipais do Subúrbio Ferroviário:
– Escola Coutos
– Escola Municipal de Coutos
– Escola Municipal Fernando Presídio
– ABECQIM – Ilha de Maré
– Escola Municipal Padre Norberto
– Escola Municipal Francisca de Sande
– Biblioteca Municipal Afro-Indígena Meninas do Subúrbio

Evento gratuito
Tema: “Com amor e maestria o artista e o artesão reinventam a vida na periferia”
Mais informações: @flesf_2025

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Literatura

Ernesto Mané lança “Antes do Início” em Salvador

Kelly Bouéres

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antesdoinicio
Acervo Pessoal do Autor

O diplomata e físico Ernesto Mané desembarca em Salvador para lançar o livro Antes do Início (Tinta-da-China Brasil), neste sábado (15), às 18h, na Livraria do Gláuber, em um bate-papo mediado pela escritora Calila das Mercês. O evento integra a programação do Novembro Negro e encerra a passagem do autor pela Bahia, marcada por encontros que unem literatura, ciência e ancestralidade.

Antes da capital baiana, Mané realiza duas atividades acadêmicas no estado: na quinta (13), às 14h, participa de uma conversa com estudantes brasileiros e africanos na Unilab – Campus dos Malês, em São Francisco do Conde; e na sexta (14), às 10h30, profere palestra no X Ciclo Internacional de Palestras e III Seminário de Egressos da UFRB, promovido pelo Programa de Pós-Graduação em História da África, da Diáspora e dos Povos Indígenas, em Cachoeira.

Atualmente primeiro-secretário da Embaixada do Brasil em Buenos Aires, Ernesto Mané tem percorrido universidades e feiras literárias no Brasil e no exterior com seu livro de estreia, lançado inicialmente na Argentina e já apresentado em cidades como Brasília, Rio de Janeiro e João Pessoa.

Em Antes do Início, o autor entrelaça ciência, ancestralidade e literatura para narrar a jornada de um homem que, ao revisitar a terra do pai na Guiné-Bissau, confronta os limites da identidade racial e nacional. “Sempre me vi como menino negro. Mas na Guiné-Bissau, as crianças me viam como branco e colonizador”, conta Mané, que se define como birracial e binacional, reconhecendo-se nas margens de dois mundos.

Doutor em Física pela Universidade de Manchester, com pós-doutorado no Canadá e nos Estados Unidos, Mané foi admitido no Ministério das Relações Exteriores em 2014 pelo programa de ações afirmativas do Instituto Rio Branco. Em 2019, foi nomeado pelo MIPAD (Most Influential People of African Descent) entre as cem personalidades afrodescendentes mais influentes do mundo, na categoria Política e Governança.

O livro revisita a viagem que o autor fez em 2010 à Guiné-Bissau, transformando suas anotações em um retrato sensível da diáspora africana e da reconstrução de uma identidade fragmentada. O conceito físico do “t = 0” — o tempo zero — serve como metáfora para o instante em que tudo pode ser recriado: origem, pertencimento e memória.

A curadoria do lançamento em Salvador é assinada por Suzane Sena, da Osupa Productions, produtora internacional sediada em Nova York.

“Trazer Mané à Bahia é reatar as pontes entre África e Nordeste, entre diplomacia e ancestralidade”, destaca Suzane.

SERVIÇO:

Lançamento do livro Antes do Início, de Ernesto Mané (Editora Tinta-da-China Brasil)
Bate-papo mediado por Calila das Mercês
Sábado, 15 de novembro de 2025, às 18h
Livraria do Gláuber – Praça Castro Alves, 5, Centro, Salvador (Cine Gláuber Rocha)
Valor do livro: R$ 74
Instagram: @osupaproductions

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