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Literatura

A lírica amorosa da poetisa Lívia Natália em “Dia bonito pra chover”! – Por Davi Nunes

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Fto: Lissandra Pedreira

O livro de poesia, “Dia Bonito pra chover”, da poetisa baiana Lívia Natália, é estro translúcido, espelho d`água, mar estendido mitologicamente ao horizonte infinito da linguagem. É elevação – dimensionamento azeviche da poesia amorosa brasileira. Digo isso porque, em sua lírica feminina, Lívia Natália, pressuponho, revisita, reinventa, na contemporaneidade, características – como quem enxerga os versos hermeticamente refletidos em seu abebé – da poética arcadista.

Como os poetas pastores árcades, ela utiliza personagens da mitologia greco-romana para revestir, com força epopeica, nos poemas, o sentimento amoroso. No entanto, deixa nítido, como se pode ver no título do poema Odisseu negro, a filiação africana do ser-amante, objeto da sua poesia.

A poetisa também, através desse recurso estético de retomada das personagens mitológicas, aproxima-se do erotismo presente da poética parnasiana, mesmo que nos poetas parnasos seja erotismo de fogo morto, e, em Lívia Natália, é sedução, ardor e desejo. Ela adentra a Torre de Marfim, deixa seu perfume de flor, empunha a lira poética, enfeitiça com seu canto de sereia, vai embora e segue uma corrente marítima para o alto-mar, lombo do seu amor, como se pode observar no trecho do poema que dá nome ao livro, Dia bonito pra chover:

Eu nadaria no teu suor
e seria sereia encantada.
Eu, montada no lombo do teu grosso navio,
meu Odisseu,
nada em ti cessaria de querer,
nem tuas mãos atadas.
(NATÁLIA, 2017, p. 59)

Dia bonito pra chover, em Lívia Natália, assemelha-se ao carpe diem, nos arcadistas, no entanto ao invés do “aproveite o dia”, existe aí o instante poético, o momento iluminador que dá sentido aos seus versos-vida, a eternização, em linguagem, do átimo de beleza, sagrado, do intimismo feminino de amor e dores.

O equilíbrio formal (aproximação com o parnaso) através do uso das personagens mitológicas compõe a atmosfera clássica dos seus versos. Assim, o diálogo que Lívia Natália faz com o cânone é de alta voz poética, cheia de sutilezas insurgentes, que desestabilizam a sua imobilidade, pois a subjetividade, o eu lírico, a cor que a poetisa emprega é outra, um âmbar negro fino, com tempestividade e placidez marinha que caracterizam, neste livro, seus versos, como se observa no trecho do poema Olhos D`água.

Ele tem pés de peixes,
E eu sou Água.
Sua pele cheira a antigas maresias,
sua voz, feita de pedra,
já enganou sirenas delicadas
suas guelras brancas e brutas
engoliram Netuno,
Ele devorou o pai.
(NATÁLIA, 2017, p. 13)

Lívia Natália consegue se interpor formalmente ao cânone, toca-lhe no que lhe é mais caro, a estrutura poética, enuncia o eu lírico feminino e negro que, no Poema Noturno, consegue alcançar uma nota alta de erotismo:

Sinto, em minha garganta, seu falo robusto.
Sinto
Seu falo
Macio
em minha boca.
E minha língua lambe sedenta
as estrelas que escapam do seu céu.
(NATÁLIA, 2017, p. 45)

O erotismo em Dia bonito pra chover aparece fino, mas possui libido poética, as dimensões são altas, se ondulam nas vagas abertas no lençol, no suor, mar que o eu lírico, sereia encantadora, mergulha, pois é na água, na imensidão do horizonte infinito e aquoso que ela se faz.

Dia bonito pra chover retoma, assim, a tradição da poesia amorosa na literatura brasileira e chega com a renovação da voz: a forma, o foco dos sentidos e do desejo são femininos e a lira é negra, a tecer amores insólitos. A obra de Lívia Natália, dessa forma, é um libelo estético, realmente um dia bonito pra quem o ler.

NATÁLIA, Lívia. Dia bonito pra chover. Rio de Janeiro: Editora Malê, 2017.

 

Davi Nunes

Texto de Davi Nunes –  Colaborador do Portal SoteroPreta, mestrando no Programa de Pós-graduação em Estudos de Linguagem- PPGEL/UNEB, poeta, contista e escritor de livro Infantil.

Literatura

IFBA celebra Mãe Stella de Oxóssi em Festival Literário

Jamile Menezes

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Mãe Stella

O Instituto Federal da Bahia (IFBA) realiza, no dia 26 de setembro de 2025, na sede da Reitoria (Canela, Salvador/BA), a primeira edição do Festival Literário da Reitoria do IFBA.

Isabelle Sanches|Mãe Valnízia|Iraildes Nascimento

O evento integra as ações da Política de Arte e Cultura do IFBA, coordenada pela Pró-Reitoria de Extensão (PROEX), e busca consolidar-se como um espaço de promoção do livro, da leitura e da literatura, em diálogo com a arte e a cultura, valorizando a inclusão, a diversidade cultural, a acessibilidade e a democratização do acesso a bens culturais.

Ryane Leão

Nesta edição inaugural, o Festival homenageia o Centenário de Mãe Stella de Oxóssi (1925–2025), sacerdotisa do Ilê Axé Opô Afonjá, escritora e intelectual negra baiana, autora de obras como Meu tempo é agora e Òsósi – o caçador de alegrias. Sua trajetória e pensamento reafirmam a importância das religiões de matriz africana, da memória afro-brasileira e da luta antirracista, valores que inspiram e orientam as atividades do evento.

Dayse Sacramento/Coordenadora-Geral da Editora IFBA (EDIFBA)

As inscrições para as oficinas do I Festival Literário da Reitoria do IFBA já estão abertas. As vagas são limitadas (30 por oficina) e cada participante poderá se inscrever em apenas uma oficina, já que elas acontecem no mesmo horário.  Garanta sua participação preenchendo o formulário no link: https://forms.gle/SyWGbufF33666tG

Slam das Minas

Foto: Divulgação/Slam das Minas

O Festival conecta-se ainda a experiências literárias já realizadas em diferentes campi do IFBA, como a FLIFCAM (Camaçari), o Projeto Talentos Emergentes (Brumado) e a Festa Literária Nacional da Rede Federal (Jequié), consolidando-se como parte de uma política institucional de valorização da arte, da cultura e da literatura.

Programação – 26/09/2025 | Reitoria do IFBA – Canela (Salvador/BA)

10h às 12h – Oficinas

  • Oficina de Escrita Criativa – Ryane Leão
  • Oficina Metodologia Ancestralitura – Slam das Minas Bahia (Ludmila Singa, Negafyah e Má Reputação)

14h – Abertura oficial

  • Fala institucional da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX), Nívea Cerqueira
  • Fala da Coordenação do Festival, Dayse Sacramento
 Ivana Freitas

Ivana Freitas

14h30 às 16h – Mesa Temática: Mulheres Negras e Literatura de Terreiro
Convidadas: Valnízia Pereira (Mãe Val), Iraildes Nascimento, Isabelle Sanches

16h30 às 18h – Sessão de Lançamentos de Livros

  • Ivana Freitas: O ponto e a encruzilhada: a poesia negra rasurando a memória, a história e a literatura oficial através da intertextualidade
  • Crislaine Rosa: Beije sua preta em praça pública: da apropriação do corpo à apropriação do espaço

18h às 18h40 – Intervalo Cultural

  • DJ Nai Kiese (Coreto da Reitoria)
Samba Ohana

Samba Ohana

19h às 20h30 – Mesa Temática: Escritas do Futuro – autoras negras e escritas da vida
Convidadas: Ryane Leão e Cristian Sales
Mediação: Dayse Sacramento

21h às 21h50 – Encerramento artístico

  • Apresentação musical: Samba Ohana

Foto destaque Mãe Stella: Antonello Veneri

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Literatura

Sarau de Se7e celebra diversidade e arte na sua sétima edição

Jamile Menezes

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O Sarau de Se7e nasceu a partir do livro Se7e Passos de Ameixa, escrito pelo ator, poeta e escritor Ednaldo Muniz

O Sarau de Se7e, evento gratuito reúne artistas da comunidade LGBTQIAPN+ e da cultura afro-brasileira no Centro Histórico com poesia, música, performance e resistência chega a sua sétima edição. A programação vai celebrar a palavra falada e as vozes da arte contemporânea. Esta edição acontecerá no Centro de Estudos Afro-Orientais – CEAO, no bairro Dois de Julho, no dia 03 de outubro, às 19h.

Os protagonistas desta edição serão artistas da comunidade LGBTQIAPN+, que ocuparão o centro da cena com suas vozes, narrativas e performances. Haverá na programação a Rainha Loulou, drag queen baiana; Lawá Ferreira, mulher transgênero, preta e transfeminista; Lua Teixeira, mulher trans, escritora e poetisa; Kuma França, homem trans preto; Meloyin Galvão, artista de rua e independente do cerrado mineiro; Máxima do Ébano, multi-artista, não-bináre; Próspera, artista multilinguagens, cria da BXD, neta do êxodo; Adayo, dofonitinho de Omolu, representando as crianças de terreiro.

A apresentação ficará por conta da Mestra de Cerimônia Tarry Cristina, acompanhada pela percussão de Jerfesom Pereira.

Origens

O Sarau de Se7e nasceu a partir do livro Se7e Passos de Ameixa, escrito pelo ator, poeta e escritor Ednaldo Muniz, e se consolidou como um espaço de afeto, escuta e expressão artística. Com atuação comunitária, o Sarau de Se7e atrai jovens, artistas independentes, educadores(as) e moradores do Centro Histórico, promovendo educação antirracista, valorização da identidade negra e a palavra como instrumento político e poético.

O evento tem apoio do CEAO, Madá Negrif, Dj Jeferson Souza, Rivaldo Nascimento, Bando de Teatro Olodum, Agô Empreende, Roberjan Magalhães, Cative Públicos Estratégicos e Lobo Som.

 

Serviço:

O que: 7ª Edição do Sarau de Se7e

Onde: CEAO – Dois de Julho
Quando: 03 de outubro
Horário: 19h
Quanto: Entrada gratuita

 

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Formação

Festa Literária Arte e Identidade divulga finalistas do Concurso Versos de Identidade

Jamile Menezes

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Festa Literária Arte e Identidade

 

Estão definidos os 10 jovens poetas de escolas públicas de Salvador e Região Metropolitana que estarão no palco do Espaço Juventudes, durante a 5ª Festa Literária Arte e Identidade, no dia 3 de outubro (sexta-feira). Às 15h30, os finalistas do Concurso Versos de Identidade Ano II subirão ao palco do Largo Quincas Berro D’Água para expressar sentimentos sobre identidade, resistência, arte e alegria enquanto ferramentas de luta, afirmação e existência.

As escolas que terão representantes disputando o pódio na premiação são: Escola Municipal Diácono Fernando Britto (Anathalia Kiara A. Quadros), Centro de Educação Profissional em Gestão Severino Vieira (Arthur O. Santos), Colégio Estadual Nelson Mandela (Camile Vitória E. Souza), Colégio Estadual Desembargador Júlio Virgílio de Sant’Anna (Claiton Neres), Colégio Estadual Teodoro Sampaio (Gabrielly S. Oliveira), Colégio Estadual Desembargador Pedro Ribeiro (Luis Alves), Colégio Estadual do Stiep Carlos Marighella (Paulo César Santos), Escola Municipal Pedro Paranhos (Sthefany A. Costa), Escola Municipal Conselheiro Luiz Viana (Sueli Barboza) e Colégio Estadual Cidade de Candeias (Ysllana Anunciação).

Os estudantes classificados nos 1º, 2º e 3º lugares serão premiados com troféu, prêmio em dinheiro, além de três livros da literatura negra infantojuvenil. Os poemas concorrentes abordam o tema desta edição, que é “Resistir é Festejar”, com versos que celebram a ancestralidade, a alegria e a potência da juventude negra e indígena como ato político, cultural e transformador.

“A nossa resistência traz a marca da dor, todavia também fala de amor, alegria e acolhimento. Li e reli cada poema sentido a vibração, o tom, o ritmo invadido intencionalmente pelo conteúdo proposto. Todos os poemas chegaram com as marcas daqueles que já sabem que não há história única e que escrever também é um ato de resistência para seguir festejando. Foi enriquecedor acompanhar essa costura”, comenta a escritora Márcia Márcia Mendes, coordenadora pedagógica da Festa Literária Arte e Identidade.

Para Márcia, que trabalhou na seleção dos poemas ao lado da curadora Karla Daniella Brito, a iniciativa possibilita que a leitura e a escrita sejam vividas como práticas sociais, dentro e fora do ambiente escolar.

“A escola é um lócus potente de ‘escrevivências’, termo cunhado por Conceição Evaristo, para lançar luz de uma escrita ancorada na memória individual e coletiva de cada pessoa. É desse solo encharcado de amor e, muitas vezes, carente do colo que a história negou, que meninos e meninas trazem para o papel os poemas”, conclui.

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