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Opinião

Agora somos nós que protegeremos os Orixás! – Por Luciane Reis

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Foto Raul Spinassé/A Tarde

A nossa pacificidade diante da não laicidade e da tolerância e aceitação do estado com as posturas evangélicas, é a mola propulsora que sustenta a certeza da permissividade  destes que se consideram os enviados de Deus. A nossa complacência é tanta, que não nos incomodamos com as pregações nos transportes ditos coletivos ou qualquer violabilidade pública provocada por esses e que tem nos passageiros e rodoviários  toda a compreensão com os  “enviados do senhor”.

Nossa tolerância é tanta que de maneira institucionalizada e apoio do estado, a bancada evangélica ocupa quase todos os espaços de governos e dos meios de comunicação diante dos nossos “o que é que tem?”.

O que é que tem se estou no hospital e o único templo religioso tem uma cruz e pessoas entregando a palavra de deus?

O que é que tem se estou sentada em um bar e esses entendem que posso ser invadida com o que eles consideram a palavra do senhor?

O que é que tem a não participação do estado nos eventos de combate à intolerância?

O que é que tem se esses fecham uma rua e impede a passagem de qualquer carro por que estão pregando a palavra de Deus?

O que é que tem? Tem que essa complacência  é o que, junto com a certeza da tolerância e impunidade social, faz com que esses cometam as maiores atrocidades e invasão e isso seja normal.

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Foto Fafá Araújo

O “é só a palavra do senhor” vem cada dia mais  promovendo violência ao  povo de orixá  nos quatro cantos do pais independente da posição social.  Não podemos nos indignar com o ocorrido junto aos  terreiros do Rio de Janeiro,  quando há mais de duas décadas esse mesmo estado  legitima os “trabalhos sociais” de uma única religião junto aos presídios brasileiros.

O sociólogo Clemir Fernandes, do Instituto de Estudos da Religião (Iser), em suas pesquisas junto às unidades prisionais, averiguou que entre os anos de 2000 e 2010 houve um aumento de 61% de evangélicos no país. Metade destes, fruto das “ações sociais” junto ao sistema prisional brasileiro.

Não é problema ter programas sociais e acalanto religioso  para  pessoas que passam anos em meio à solidão, sem saber como será o dia de amanhã. O problema é a aceitação e permissibilidade de uma única fé. Fé essa que não estimula a tolerância e o respeito à diversidade às demais religiões.

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Foto Jornal Awure

Graça Machel, em recente visita ao Brasil, lembrou que colhemos os frutos de certas ações a longo prazo. Eis que chega o momento de colheita do “povo de deus”. Um processo de intolerância que sai das mãos de cidadãos comuns e passa para os que estão à margem da sociedade e sem nenhum parâmetro de diálogo ou controle do estado.

É preciso compreender que os vínculos dos detentos com as atividades religiosas não se restringem apenas à espiritualidade, mas também à mudança de caráter e de comportamento que se estende a todo núcleo familiar. Os ataques aos terreiros no Rio de Janeiro nada mais são que efeitos de visitas sociais evangélicas aos presídios, sob a institucionalização da intolerância religiosa.

Não acho que seja a hora de colocar os orixás ou clamar por sua justiça. Ao contrário, é hora de convocar sua ira e desmontar essa não laicidade que descansa em berço esplêndido. É hora de se cobrar posicionamentos reais e internacional contra o estado brasileiro.

Quando “até Oxalá vai à guerra”, entendemos que chegou a hora de mostrarmos até onde iremos para defender nossa fé. Isso passa pelo entendimento que precisamos nos organizar institucionalmente. Ou elegemos nossos nomes, homens e mulheres de Candomblé que usam firma e não miçangas no pescoço, ou continuaremos sendo esmagados por esse estado intolerante e omisso.

Precisamos buscar a fé que não sucumbiu nem aos navios tumbeiros quando nos tiraram a dignidade e humanidade. Mas precisamos também discutir estratégias, para  desestruturar essa rede que nos violenta de maneira massiva. Sabemos que a resistência às opressões vem da união dos oprimidos, portanto que nos organizemos para a resistência.

Não pedimos guerra,  somos um povo que mesmo com todas as dores  proporcionada por esse país,  continuamos sendo generoso. Mas sabemos guerrear e nossa justiça  é   implacável.

Luciane Reis

Luciane Reis é publicitária, idealizadora do MercAfro e Yamorixá de Oxumaré

Opinião

#Opinião – O pavor da morte: reflexões sobre o inevitável – Por Armando Januário

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Causou revolta e horror o fato ocorrido na última terça-feira, 16 de abril de 2024, quando uma mulher conduziu um senhor morto a uma agência bancária, em Bangu, Rio de Janeiro. Distante do desejo de julgar, a nossa questão é saber como a sociedade tem se relacionado com um evento inevitável, do qual pouco se fala, seja por medo, dor ou superstição.

O temor da morte é perfeitamente compreensível. Quando somos trazidos à vida, temos um instinto inato de preservação. Todavia, diariamente, há o confronto com esse instante: a exposição midiática da morte em assassinatos cruéis, o falecimento por suicídio, o gosto amargo da derrota ante uma doença terminal, são exemplos de uma sociedade educada para ignorar que morremos ao nascer, momento no qual a contagem dos nossos dias conhece os seus ciclos de duração: infância, adolescência, fase adulta e terceira idade.

Deveríamos nos preparar melhor para morrer, haja vista nossa consciência estar para além da extinção do cérebro, conforme demonstra a obra Ciência da Vida Após a Morte, de vários autores, entre eles, o psiquiatra Alexander Moreira-Almeida, da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Desde as Experiências de Quase Morte (EQMs), passando pelos fenômenos mediúnicos, até chegar as aparições e memórias de vidas passadas, fica evidente a racionalidade sobre os fenômenos que envolvem a caminhada do espírito, através da pluralidade da existência.

Somos constante energia em movimento cíclico, destinada a passar por essa e tantas outras materialidades existenciais, até compreender o sentido da vida. A tristeza integra esse sentido. A alegria também!

Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp).
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#Opinião – Quem te oferece afeto quando você não se sexualiza? Por Lidiane Ferreira

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Há pouco mais de um ano tornei-me solteira, e nesse tempo, em que caminho de mãos dadas a mim mesma, criei alguns perfis em apps de relacionamento. Confesso que conheci muita gente legal, mas hoje, enquanto deslizava os dedos pelas redes sociais, a procura de nada, deparo-me com o seguinte post:

Fiquei presa nesta postagem por alguns minutos e até printei a tela. Segui passando e passando pelas publicações, mas ainda assim envolvida naquele post. É, minha gente, eu fiquei pensando na minha condição de mulher negra, no quanto o meu corpo é subjugado e posto à marginalização, à hipersexualização. Fui nas minhas conversas e vi a quantidade de homens, que buscam, talvez, uma preta disponível para suprir seus desejos. Chegam sempre muito gentis, até o momento em que se dão conta de que aquilo não é o que esperavam, aí mudam o comportamento, somem, deixando um vazio e uma sensação de que é errado se resguardar. Uma total falta de responsabilidade afetiva, resultado da manutenção de valores coloniais na atualidade, a colonialidade.

O reflexo da colonialidade se torna, nesse contexto, o principal fator de efetivação desses comportamentos, vivenciados por mulheres negras, desde a infância. O preterimento e a exclusão do afeto surgem ainda na infância, quando na escola a menina negra nunca é a escolhida para nenhuma atividade, por exemplo. E seguimos marcadas pela dor, causando, em alguns casos, sérios problemas de cunho psicológico, que chegam a interferir nas relações sociais e afetivas.

Diante disso, ainda dá para acreditar no amor? Sim, felizmente o afeto não está restrito a relações conjugais: temos famílias, amigos, pets… temos, principalmente, algo que precisa ser constantemente nutrido: nosso amor próprio. Sabemos que príncipes não existem, sejam eles negros ou não. Mas não é porque sabemos da inexistência que aceitaremos o pouco que nos dão, porém isso torna-se perceptível quando aprendemos a nos amar. O desejo pela construção e manutenção da família precisa ser pautado, antes de tudo, a partir do nosso bem-estar. Estar bem é algo inegociável, e isso só acontece quando entendemos que o amor é uma coleção de pequenas e grandes demonstrações de afeto.

Estamos aprendendo a caminhar com o afeto, que nos foi negado. O afeto é uma construção individual e coletiva, ao mesmo tempo em que é uma descolonização de pensamentos. Descolonizar é parar de enxergar nós mulheres negras como iguais, pois o racismo estrutural distorce e dificulta a nossa capacidade de amar, de sermos amadas e respeitadas. Sigamos na luta!

 

Lidiane Ferreira é  poeta, Profª de Língua Portuguesa ‍ Especialista em Ed. Gênero e D. Humanos (UFBA) Membra do @enegrescencia. Baiana e mestranda PPGEL/UNEB. | @lidianeferreira._

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Opinião

#Opinião – Espiritualidade: integridade do Ser – Por Armando Januário

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“É contraditório ver o quanto as pessoas perdem a integridade em busca do sucesso, quando o maior sucesso está na própria integridade”. Com essa frase, o radialista baiano Alfa Santos (1976-) percebe na integridade o caminho para o sucesso. Todavia, em uma cultura marcada por relativizações, como cultivar essa característica?

Integridade nos remete ao latim integritate, a qualidade de manter a solidez de espírito. Esse termo nos leva a encontrar A Espiritualidade, haja vista nossos olhos se abrirem para as ferramentas que iremos utilizar na construção da verdadeira essência humana. Distantes do medo da morte, aprendemos com O Todo a nos aprofundar em nossa jornada existencial, persistindo, sobretudo, em momentos críticos. Nesse ínterim, passamos a utilizar novas roupas morais, resistentes a certos convites, como o extremismo, a incitação ao ódio e a crueldade deliberada. Passamos a cultuar A Divindade que mora dentro de nós, conhecendo A Liberdade Infinita do pensamento e da escolha.

Assumimos, portanto, para além de um templo físico, compromissos conosco. Passamos a ver A Realidade: borboletas e mariposas silenciam nossas almas[2]. Desenvolvemos A Consciência, logo, o julgamento alheio não nos martiriza. Cientes das Leis Universais e da Manifestação Divina em todas elas, acessamos a nossa Casa Interior, construída na rocha. Furacões sobre Ela nada podem fazer.

A Espiritualidade desenvolvida nesse solo firme é a semente que germina e se torna uma bela e frondosa árvore. Somente quem ainda dorme no berço dos prazeres momentâneos e imediatistas continuará a desconhecer a qualidade da árvore. Contudo, ela seguirá, íntegra, produzindo doce fruto apenas para quem, com discernimento, saborear na estação apropriada.

[2] Quem desejar, abra o próprio espírito para esse trecho.

Armando Januário dos Santos é Trabalhador da Luz, Mestre em Psicologia, Psicólogo (CRP-03/20912) e Palestrante. Contato: (71) 98108-4943 (WhatsApp).

 

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